quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A saga dos cadeirantes para ir ao estádio de futebol em Uberlândia – MG

Desabafo de uma cidadã

Na quarta-feira dia 25/08 fiz uma coisa inédita: fui ao estádio de futebol para assistir a um grande jogo do campeonato brasileiro: Cruzeiro X Corínthias. Mesmo acompanhando às vezes o futebol, esse não é um dos meus programas favoritos, mas fui a convite do meu pai - cadeirante há 07 anos em função de um acidente de caminhão – que estava com muita vontade de ver o “clássico” e não queria perder a oportunidade de ver seu time, que era de outro estado, jogando em Uberlândia.
Convite aceito, a primeira etapa da saga foi a compra dos ingressos. Era necessário perguntar se em tal setor havia lugares para cadeirantes. Isso já é um ponto interessante: me parece que não há lugares para cadeirantes em todos os setores do estádio.

Bem, ingresso comprado, lá fomos nós, ansiosos e empolgados para o jogo. Chegando ao estádio a primeira surpresa desagradável: não havia vagas de estacionamento suficientes para deficientes físicos. Isso já me deixou revoltada. Como, naquela multidão, arrumar um estacionamento mais próximo à entrada? Como chegar até o estádio passando no meio daquela multidão, sem, nem sequer, locais adequados para transitar? Achamos, por sorte, um estacionamento razoavelmente perto, porém, sem condições de acessibilidade favoráveis.

Depois de enfrentar uma subida muito íngreme empurrando a cadeira, chegamos ao portão de entrada destinado aos cadeirantes. As pessoas próximas indicaram que o portão era outro. Aí começou tudo de novo. Chegar até o outro portão foi uma odisséia. As pessoas estavam em filas, desorganizadas e alvoroçadas. Algumas eram solidárias ao fato de ter uma pessoa em uma cadeira de rodas subindo e descendo na entrada do estádio, outras, nem tanto. Chegando ao portão indicado... não era aquele de novo! Aí, já comecei a desanimar. Que bagunça! Que falta de organização! Acessibilidade então... nem vou comentar. Nesse momento, minha sorte foi encontrar um amigo policial, que nos conduziu até o portão certo. Ele foi “abrindo alas” entre as pessoas para que pudéssemos passar. Naquele momento uma reflexão se instaurou em minha cabeça: ainda, nesse país, precisamos de uma autoridade policial para conseguir coisas mínimas das pessoas, como o respeito.

UFA! Depois de tudo isso, entramos no estádio. A emoção estava à flor da pele, mas eu, no fundo, estava era ficando triste com aquilo que estava presenciando. A acessibilidade ainda não acontece de fato, era minha única certeza naquele momento. Uma mulher muito simpática que estava presenciando nossa outra saga, a de encontrar um local adequado para que meu pai conseguisse assistir ao jogo, nos indicou um espaço reservado à cadeirantes. Nossa! Nem acreditei na hora que vi. “Até que enfim alguma estrutura para dar condições aos deficientes físicos assistirem à partida de futebol”.

Porém, essa foi a parte que me deixou mais triste. Estando no “cercadinho”, espaço reservado para os deficientes físicos, percebi o quanto ainda falta para que as pessoas “normais” deixem a indiferença com os que não estão no padrão, deixando os invisíveis na estrutura social. Havia sim um espaço reservado, porém precário. Cada cadeirante tinha o direito a ter consigo um acompanhante, que tinha que assistir ao jogo de pé. Além disso, o espaço era pequeno. Mas até aí, tudo bem. Já estava valendo conseguir ver o jogo lá de cima. Como o estádio era bonito! O campo verdinho e as pessoas em volta pareciam uma visão. O problema era que essa vista era rara de lá de cima. Não havia nenhum impedimento para a passagem das pessoas na frente do “cercadinho”. Então, as pessoas passavam de um lado para o outro e as que estavam no cercadinho assistiam... ao desfile. Além disso, os que estavam na arquibancada na nossa frente se achavam no direito de levantar a cada boa jogada e a gente, é claro, www.google.com.brnão viu nenhuma delas, pelo contrário, passamos a maior parte do jogo gritando: “oh gente, vamos sentar!”. Mas para mim o pior de tudo isso era como as pessoas reagiam quando chamadas à atenção para respeitar o espaço do cadeirante. Ouvimos coisas do tipo: “pede com educação” e também “dá para esperar um pouquinho?”. Indiferença total, que pode ser traduzida superficialmente como: o problema não é meu!

Dos 90 minutos do jogo a gente ter assistido 45. Sai do estádio com um sentimento muito ruim, de falta de respeito, compaixão, educação e solidariedade. Ao invés de curtir o momento fiquei refletindo sobre nossa sociedade. De um lado, a falta de infraestrutura que permitisse a fruição do jogo pelas pessoas com necessidades especiais e seus acompanhantes. De outro, a indiferença das pessoas, que não se solidarizam com os problemas alheios, já que eles não os atingem.

Minha conclusão é que, mesmo com informação e campanhas publicitárias pela acessibilidade e garantia dos direitos a pessoas com deficiência física e até mesmo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

(http://www.assinoinclusao.org.br/Downloads/Convencao.pdf), a acessibilidade ainda é mais desejo que realidade.

Escrevo esse relato a quem possa interessar, pois não consegui ficar omissa diante do que vi: ainda temos pessoas invisíveis em nossa sociedade. E a questão do estádio é apenas um exemplo. Ande pela sua cidade e o observe: se você tivesse alguma deficiência física conseguiria fazer tudo o que está fazendo?

Uma sugestão que fica é que nossos legisladores e administradores públicos façam uma “Oficina de Acessibilidade”. No curso Formação de Lideranças, realizado pelo Movimento Cidade Futura, foi oferecido aos cursistas uma oficina dessas. Os alunos passaram o dia se locomovendo pela cidade como se tivessem deficiências físicas. Essa atividade mudou o olhar de muita gente. Será que uma atividade dessas não seria interessante para abrir os olhos de nossos políticos para uma questão tão fundamental como a acessibilidade?

Acredito que é necessário que todos nós nos unamos para que, no futuro, possamos ter uma sociedade mais justa e com equidade social, em que todas as pessoas tenham direito a educação, cultura, lazer... enfim, a se movimentar em sua cidade.



Ana Carolina Ferreira
Coordenadora de Mobilização
Movimento Cidade Futura

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