sexta-feira, 27 de junho de 2008
Marco Antônio 43 Anos
O metroviário Marco Antônio Pellegrini, 43 anos, formado em matemática e pós-graduado em tecnologia assistiva, ficou tetraplégico (C3/C4) em 1991, também em conseqüência de um tiro de arma de fogo. Ele, que atua no departamento de recursos humanos do Metrô de São Paulo, na área de Responsabilidade Social, também é diretor das ONGs Centro de Vida Independente Araci Nallin (CVI-AN) e Amigos Metroviários dos Excepcionais (AME). "Restaram-me apenas movimentos de pescoço", conta. "Uso cadeira de rodas motorizada com joystick no queixo e digito com um apontador na boca ou direto no PalmTop." Sobre o acidente, conta que era uma noite de julho e ele estava de férias curtindo uma moto que comprara. "Bateu um incômodo, um sentimento de perigo iminente, interrompi o passeio e voltei. Mas fui abordado na porta de casa. Em frações de segundo tive de decidir: Estão armados? Um trezoitão e dois caras. Dou a moto? Dei. Xiiiii, não foram embora! E meu filho na janela. Deixo que entrem? Fui pra cima. Pancadas na cabeça e, olho no olho, dois tiros. Desmontei sobre os joelhos e senti um forte cheiro de queimado. Eram minha carne e ossos das vértebras que romperam e queimaram por causa do disparo à pequena distância. Perdi a noção do tempo. Talvez por 10 segundos. É louco: tudo rápido e, ao mesmo tempo, muito lento. Fiquei 'adrenado' e com a consciência exacerbada. Passei telefones de amigos e do convênio, discuti no pronto-socorro com o auxiliar de enfermagem que não queria cortar minha roupa para me despir sem estragá-la. Um policial entrou na sala, olhou-me e disse 'Mandei um pro saco'. Não me trouxe conforto. Acho que naquele instante comecei a perceber o tamanho da encrenca.
Pellegrini conta que ficou cerca de quatro meses hospitalizado. "Quando saí, visitei centros de reabilitação tradicionais em busca de vaga. Tinha uma escara enorme em um momento que a técnica corretiva era de enxertos demorados e frágeis. Os programas de reabilitação funcionavam como hospital-dia, então percebi que a vida ia estacionar. Soltei dentro de mim a palavra libertadora: f..., vou seguir assim mesmo. Durante os 17 anos em que vivo nesta condição, tive muitos prazeres e conquistas: as apresentações de final de ano dos filhos (que só os pais e avós aguentam), formaturas, aniversários, natais e reveillóns, noitadas, verões na praia, paqueras, o papo furado com os bons amigos, superar metas no trabalho, concluir cursos..., os romances, o casamento, vinhos, a troca de casa, reformas da casa, shows, curtir New Orleans, Dusseldorf e Baviera. Perder tudo isso é impensável. Querer apontar de quem foi a culpa não muda nada: desastres acontecem... e passam."
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